segunda-feira, setembro 18, 2006

 

Degradação de uma cidade

Você imaginava, há trinta anos atrás, comprar água para beber?

Ter receio de sair de casa para uma festa à noite?

Dirigir em ruas e avenidas completamente alagadas cada vez que há uma chuva mais forte?

Não poder morar em uma casa devido à insegurança?

Receber uma energia elétrica cara e instável provocando danos aos seus eletro-eletrônicos?

Não haver vaga para seus filhos no colégio do bairro?

Viver atrás de grades e protegido por sistemas de segurança?

Dirigir num trânsito caótico onde qualquer acidente ou obra mais do que triplica o seu tempo no trajeto?

Pagar para estacionar na rua para que possa haver um rodízio de veículos?

Não poder deixar seus filhos livres para brincar na rua?

Não poder pescar nem tomar banho nos rios e lagos que nos abastecem?

Estes fatores possuem várias causas e contribuições, tanto governamentais quanto particulares, ou seja, todos nós temos nossa parcela de culpa.

Quando uma cidade cresce desenfreada e desordenadamente é isto que acontece. O poder público não consegue prover o retorno dos impostos em infra-estrutura e estão sempre “correndo atrás” para corrigir. A máquina pública é inflada e pouco eficiente. De quem é a culpa? Nossa, por não cobrarmos os resultados, planejamento consciente e exigirmos bons serviços.

Quando uma cidade cresce verticalmente, sem planejamento adequado, sem investimentos nas redes de água, esgoto e luz, esgotos afloram, dutoras e canos de abastecimento explodem e a luz oscila ou falta. E pior, nem podemos mais contar com os nossos reservatórios naturais de água devido ao excesso de poluentes que despejamos.

As ruas não comportam mais o número de veículos devido a explosão demográfica e conseqüente número de veículos, suas coberturas deterioram-se aceleradamente devido ao tráfego intenso e reparos constante de obras e, não existe mais lugar para estacionar, a não ser que você pague ou estacione bem longe ficando sujeito a não encontrar seu veículo quando voltar.

As pessoas aglomeram-se em edifícios cada vez mais altos, procurando uma sensação de segurança tal qual as manadas de animais ou cardumes de peixes o fazem na natureza: diminuindo a probabilidade de extermínio e ataque, pois somente os mais vulneráveis ficam expostos. Mas pergunto-me: e quando todos estiverem igualados, não será mais fácil e mais lucrativo um ataque onde existam várias unidades familiares, cercadas e fora da visão dos vizinhos e transeuntes?

Então qual a solução? HORIZONTALIDADE!

As cidades modernas, com um plano diretor consciente e planificação para o futuro ou em re-adequação estão utilizando-se deste conceito com resultados incríveis, apesar do aumento da área ocupada. Mas convenhamos, até parece que o Brasil é do tamanho de Portugal ou Uruguai ou Panamá. Área é o que mais possuímos então porque não utiliza-la inteligentemente?

E quais seriam as vantagens?

Com um bom planejamento, possuiríamos estradas de circulação rápida, sem sinaleiras com várias faixas de fluxos, tipo radiais, permitindo que as pessoas utilizem-se de seus veículos ou de transporte de massa terrestre alcançar com rapidez o seu destino. A utilização e construção de meios de transporte como trens e metrôs também seriam maximizados e facilitados. Conseqüência: fluxo livre, melhores serviços para a sociedade, mais geração de empregos, mais investimentos.

Existiria a concentração dos recursos arrecadados em investimento de novas infra-estruturas, ou seja, novas ruas e avenidas, novas estações de tratamento de água e esgoto, energia e telefonia adequando-se a densidade populacional com construções mais espaçadas, áreas verdes com maior circulação de ar e menos poluição, promovendo a qualidade de vida e saúde.

A segurança seria incrementada automaticamente, primeiro por um simples fator: existe mais área e menos concentração dos bens. Segundo: com a conscientização das pessoas, não seria mais necessário o largo investimento em segurança. Vizinhos começariam a conversar mais a cuidar um dos outros, como em qualquer sociedade salutar acontece. A segurança pública poderia particionar-se em distritos e o investimento que faríamos em grades, alarmes e câmeras poderia muito bem tornar-se, viaturas, armamentos, escolas, postos de saúde, etc.

Também incentivaríamos os negócios pois é necessário abastecer estas novas localidades com comida, vestuário, serviços, hospitais, escolas, etc. gerando mais empregos, melhores salários, mais consumo, mais riquezas, maior arrecadação, fazendo com que a roda da economia gire, liberando o atual freio que a detém.

Será que é utopia? Não, não é. Basta pensarmos em nosso futuro próximo – digamos daqui a vinte anos – no futuro de nossos filhos: será que terão as mesmas oportunidades e a mesma qualidade de vida de nossos pais?

Que tipo de sociedade queremos? Enclausurarmo-nos atrás de estruturas cada vez mais reforçadas, perdendo nossa liberdade e temendo constantemente pelas nossas vidas? Viver em locais escuros com pouca iluminação solar, mal cheirosos, degradados pela falta de recursos para manutenção e pichados por delinqüentes que não temem a lei? Pagar impostos sem o devido retorno e ter custos altíssimos para podermos sobreviver com alimentação precária e provável decadência da saúde física, sem água sequer para nos lavar?

Baixar o nível de escolaridade e cultura, transformando a grande massa em um sub-produto da sociedade sem possibilidade de uma vida descente?

Promover também a decadência dos valores morais, éticos e sociais?

E a miséria gerada por nossas atuais ações, não se voltará contra nós, não invadirá nossos domínios sem preocupar-se com a sanção da lei?


É estranho, mas parece-me que já estamos começando a viver assim...


Mauro Nadruz
Administrador e Gestor de Segurança Pública e Privada






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